Juntos por Todos - Meo Arena - 27Junho 2017

Juntos por Todos: 27 artistas nacionais ‘juntam’ mais de um milhão em solidariedade com as vítimas dos fogos florestais

Louve-se a iniciativa de Tiago Cação (tour manager de António Zambujo) e de Vasco Sacramento (da promotora Sons em Trânsito) que, com o apoio das principais editoras nacionais, em pouco mais de uma semana, colocou de pé "Juntos por Todos", concerto que decorreu na Meo Arena, perante 14 mil pessoas, em solidariedade com as vítimas dos fogos florestais e que angariou 1.153.000 euros, revertendo a favor da União de Misericórdias Portuguesas para reforçar o apoio às populações afetadas.

Neste momento histórico, pela primeira vez, RTP, SIC e TVI e todas as rádios nacionais difundiram, conjuntamente e em direto, um concerto com 27 artistas portugueses de diversos géneros musicais - Agir, Amor Electro, Ana Moura, Áurea, Beatbombers, Camané e Carlos do Carmo, Carminho, D.A.M.A, David Fonseca, Diogo Piçarra, Gisela João, Hélder Moutinho, João Gil, Jorge Palma e Sérgio Godinho, Luísa Sobral, Luís Represas e João Gil, Matias Damásio, Miguel Araújo, Paulo Gonzo, Pedro Abrunhosa, Raquel Tavares, Rita Redshoes, Rui Veloso e Salvador Sobral.

Os momentos menos felizes da noite terão sido o excesso de produção televisiva, o grafismo sofrível, algumas perguntas clichês da tripla de apresentadores - Sílvia Alberto (RTP), João Manzarra (SIC), Fátima Lopes (TVI) -, as constantes mudanças de palco num entra e sai piano ‘desgraçado’, e algumas questões com a qualidade do som. Não foi, certamente, a tirada humorística de Salvador Sobral, que entre a arrojada e inesperada “A Case of You” (de Joni Mitchel) e a aguardada “Amar Pelos Dois” tocou ‘trompete’ com a boca e soltou um: “sinto que posso fazer qualquer coisa que vocês aplaudem. Vou mandar um peido para ver o que é que acontece". No recinto, a gargalhada foi geral. Após a queimada em hasta ‘facebookiana’, o vencedor da Eurovisão pediu desculpas pelas palavras que considerou “bastante inoportunas”.

No início de junho, por exemplo, "One Love Manchester”, produzido pela equipa de Ariana Grande (e amigos), evento solidário que decorreu na cidade inglesa poucos dias após o atentado, perante 50 mil pessoas e transmitido pela BBC para o mundo inteiro via YouTube e Facebook (em Portugal, na RTP, com os comentários pertinentes de Filomena Cautela e Nuno Galopim), contou, também, com três horas e meia de duração, mas sem tempos mortos com mudanças constantes de palco (os artistas portugueses deviam ser mais unidos: um palco preparado para fados, outro para pop rock e outro para hip hop world - infelizmente bastante ausente, com a salutar exceção dos multicampeões de 'scratch' Beatbombers), sem intervalos, sem apresentadores-vedetas, sem intérpretes de língua gestual (a da RTP curtiu um molho e levou-nos a risadas constantes, mas não havia necessidade…), sem dar tempo de antena ao presidente da ‘BBC’ e a convidados que pouco ou nada sabem de música ou solidariedade. A música vale por si, a cultura tem de deixar de ser o parente pobre das televisões (e rádios), com tanta conversa de encher chouriço e tantas palmadinhas nas costas (já basta as ‘ocas’ conferências de imprensa antes e depois dos jogos de futebol).

Os Beatbombers, de DJ Ride e Stereossauro, acabados de lançar o disco de estreia homónimo, animaram a chegada de Marcelo Rebelo de Sousa, de Ferro Rodrigues e do Ministro da Cultura (e de outros convidados) à Meo Arena e os dois intervalos que o espectáculo viria a ter. Num deles, com um magnífico final, lembraram Carlos Paredes, antes de deixarem palavras de apreço por todos os que apoiaram a iniciativa. Infelizmente foram praticamente expulsos do palco pela necessidade de montagem do espetáculo de Paulo Gonzo, ecoando um inconfortável silêncio, durante 10 minutos. Seria preferível optar por um pequeno palco lateral, um pouco abaixo, como nos grandes festivais internacionais, onde os Beatbombers não ‘incomodassem’ ninguém. Foi feio o que lhes fizeram.

“Como Ela é Bela”, de Agir, marca o arranque do concerto solidário no qual os artistas chegavam ao palco por ordem alfabética (talvez tivesse sido mais ajuizado uma moedinha ao ar…). O filho de Paulo de Carvalho e de Helena Isabel pediu telemóveis ao alto e recebeu uma Meo Arena iluminada. Seguiu-se a música oficial do Euro 2016, a épica “Juntos Somos Mais Fortes”, dos Amor Electro, à qual o público reagiu efusivamente. Marisa Liz, emocionada, deixou palavras emotivas aos “desventurados” e aos heróis. Emocionou-se, genuinamente, a pedir o apoio do público e garantir mudanças para que tragédias como a de Pedrógão Grande não se voltem a repetir. A ‘divar’ com o melhor vestido da noite, Ana Moura, perante aclamação do público interpreta a apropriada ao momento, “Desfado”. Na conversa com Fátima Lopes, Ana Moura cita Agustina Bessa-Luís: “O português não é conflituoso, é desordeiro. O conflito está na mente; a desordem está no coração”.

A quarta artista a subir ao palco foi Áurea, com "I Didn't Mean It". “É arrebatador ver-vos aqui todos unidos por uma mesma causa" - os telemóveis regressam à substituição dos isqueiros século xxi, ainda que em menor número do que a entrada com Agir - “O dinheiro - nesta altura 600 mil euros - vai integralmente para as vítimas desta tragédia”, indicou a artista na conversa com Sílvia Alberto. Carlos do Carmo e Camané, duas magníficas vozes do fado, cantaram, em dueto, "Por Morrer Uma Andorinha". “Destaco a generosidade das pessoas, esse lado português, dão o que têm e o que não têm” disse Carlos do Carmo a João Manzarra. Para Camané “a esperança e a fé são as coisas importantes da vida”. Carlos do Carmo fura o ‘protocolo’ para cumprimentar Carminho, a fadista que se segue. Acompanhada de um acordeonista, Carminho faz ecoar a sua bela voz pelo Atlântico, espalhando um perfume a mar no pavilhão. "Meu Mar Marinheiro": um belíssimo momento. “Espero que as vidas se recomponham e que as feridas se curem (...), vou às causas em que acredito (em termos de redes sociais)”. Fátima Lopes pede um aplauso para os bombeiros portugueses. O público responde com um forte e prolongado aplauso de pé.

Os D.A.M.A ‘adormeceram’ a audiência com "Não Dá". Mesmo. "Que noite extraordinária esta, um sentido de comunidade absurdo, obrigado a todos", referiu David Fonseca antes de interpretar um dos seus temas mais reconhecíveis, "Someone That Cannot Love". Diogo Piçarra levou "História" e avançou que “o dinheiro não é tudo”. Seguiu-se a maravilhosa “Senhor Extraterrestre”, com Gisela João a ser acompanhada pelo exímio guitarrista Ricardo Parreira. A letra, de Carlos Paião, e um dos singles do segundo álbum, divertiu por completo a sala. Emocionada, em lágrimas, referiu que esta solidariedade “é um exemplo de que somos muito grandes, da beleza mais pura que pode existir… se isto não é o bonito, digam-me onde está o bonito”. Helder Moutinho, agente de Gisela João, e com os mesmos três músicos da artista que o precedeu, avançou um “bora lá ter força para continuar” após tocar "O Que Sobrou da Mouraria". “A malta não se junta apenas para o futebol. Acabar com os negócios por detrás disto tudo, para que isto nunca mais se repita”, disse o mano de Camané.

A segunda parte do espetáculo teve início com os ‘violões’ de João Gil e Luís Represas, que se juntaram para interpretar a conhecida "Memórias de Um Beijo". “Há que falar menos e começar a ação”, avançou João Gil. O também ex-Trovante Luís Represas disse que “os portugueses têm o coração aberto, são um dos povos mais solidários que conheço”. O ‘medley’ “Portugal, Portugal” - “O Primeiro Dia” terá sido, quiçá, o melhor momento de uma belíssima noite de canções soltas, que as rádios e as televisões transportaram a um Portugal solidário, com os mestres Jorge Palma e Sérgio Godinho a trocarem ‘galhardetes’, piano e vozes, simples, arrepiante.

Luísa Sobral levou “Cupido” à Arena patrocinada pela operadora Meo. “Com a força de uma canção” - aproveitou o tempo de antena, em primetime, para falar da “fantástica” organização - “700 voluntários, aqui desde madrugada” - e de todos os músicos que infelizmente não puderam estar presentes - “caso contrário estaríamos aqui uma semana” -, representando-os. “O público português recebe bem”, avançou. Matias Damásio, caído de paraquedas (não literalmente), cantou “Loucos”. Entoada por muitos, sem dúvida uma música conhecida, embora cheia de problemas técnicos e com uma letra sofrível, resultou num dos piores momentos da noite. Muito aquém do esperado, Miguel Araújo interpretou "Anda Comigo Ver os Aviões", o tema mais reconhecido dos seus Azeitonas. Depois de ‘marinar’ em azeite, no regresso após o derradeiro intervalo, Paulo Gonzo juntou mais ‘oleosidades’ com “Sei-te de Cor” (neste momento, dava mesmo vontade de beber para esquecer). “Obrigado por terem vindo”, diz Gonzo. As perguntas são agora de António Macedo, com Nilton e Vasco Palmeirim a pedirem muito barulho para se ouvir nas rádios de Portugal. “Pessoal, isto é a prova que isto é um povo do caraças, é ou não? As televisões já o fizeram quando o papa esteve cá. Lembrem-se que os bombeiros não estão cá só no Verão”, disse o humorista da RFM.

“Toma Conta de Mim”. Era chegada a vez de Pedro Abrunhosa, introduzido pelo senhor - a convite de Palmeirim - Macedo. Os Comité Caviar acompanham - e bem. Há aplausos, não há facilitismo. Há uma letra apropriada. “Estamos longe do fim, estamos longe do fundo, toma conta de mim”. Gigante, a arrepiar a audiência. “Os pobres, os loucos, aqueles que todos perderam… toma conta de mim”. Épico, com uma ovação merecida. “Os músicos e os feirantes são os que melhor conhecem o cenário do país; de certeza tivemos vítimas nos nossos concertos”, refere Abrunhosa. Raquel Tavares, após a mudança de palco mais rápida da história, interpreta “Meu Amor de Longe” com uma t-shirt desportiva alusiva a “Juntos por Todos”. Há quem se levante e dance, perante aquela voz e presença. A fadista canta, representa, dá tudo, convida o público a cantar: “chega de tragédias e desgraças...”. E ainda apresenta a banda. “Uma gente que não olha a meios para ajudar. Estou com Pedrógão Grande. Não se esqueçam rapidamente do que aconteceu. Um abraço nunca fez mal a ninguém. Se sentirem vontade, vão até lá, abracem aquelas pessoas”, disse, emocionada. Corações infinitos.

Uma secção de cordas a garantir muita qualidade numa performance que apesar de tudo se sentiu curta. Falamos de Rita Redshoes e do tema "Mulher". “Há responsabilidades políticas e individuais que têm de ser apuradas. Temos de exigir justiça (…); aqui atrás há pessoas a trabalhar desde as 6h da manhã para isto ser possível”, avançou. “Já fizeste a tua chamada?”, pergunta-lhe Manzarra à qual ela responde prontamente: “Já fiz, várias vezes”. A fechar, antes de Salvador Sobral, Rui Veloso tocou uma das canções mais marcantes da sua carreira, "Primeiro Beijo", não sem antes dizer: “Bem-hajam, a todos, por ajudarem”.

Venham mais eventos solidários como este e como o de António Cotrim (fotojornalista da Agência Lusa), “Uma Imagem Solidária”, na qual os fotojornalistas portugueses se preparam para apoiar os bombeiros portugueses. Ajudem a ajudar. Parafraseando o ‘pai’ do rock português, “bem-hajam” todos os que não ficam indiferentes.

Texto: Filipe Pedro

Share this article

Box Icon

Suscipit purus pariatur quidem, porta doloremque, cras natoque potenti diamlorem! Nisl nobis interdum aperiam turpis pellentesque mauris taciti provident ab sollicitudin, mollit alias dolores consequatur itaque placeat tincidunt.

Box Icon2

Suscipit purus pariatur quidem, porta doloremque, cras natoque potenti diamlorem! Nisl nobis interdum aperiam turpis pellentesque mauris taciti provident ab sollicitudin, mollit alias dolores consequatur itaque placeat tincidunt.

Box Icon3

Suscipit purus pariatur quidem, porta doloremque, cras natoque potenti diamlorem! Nisl nobis interdum aperiam turpis pellentesque mauris taciti provident ab sollicitudin, mollit alias dolores consequatur itaque placeat tincidunt.

Sobre Nós

A paixão pela música e fotografia, conciliou para a criação deste site de fotojornalismo, feito com o total profissionalismo de quem pretende ajudar a criar uma página digna de quem procura notícias, fotos e vídeos dos melhores concertos em Portugal.

 

Registo ERC nº 125369
Periodicidade - Mensal
19/06/2024

Últimas Notícias

Promotoras